quinta-feira, 12 de maio de 2011

O homem passou por dois estágios. Primeiro esqueceu que é bicho. Depois esqueceu que é homem.

“O sol nasce e ilumina as pedras evoluídas, que cresceram com a força de pedreiros suicidas. Cavaleiros circulam vigiando as pessoas. Não importa se são ruins, não importa se são boas. E a cidade se apresenta centro das ambições

Para mendigos ou ricos. E outras armações

Coletivos, automóveis,

Motos e metrôs

Trabalhadores, patrões, policiais, camelôs

“ “A cidade não para, a cidade só cresce. O de cima sobe e o de baixo desce.”

O conteúdo social de A cidade, letra composta por Chico Science é uma consciência quase onipotente das forças que envolvem o processo evolutivo da civilização humana e o papel de cada membro nessa instituição denominada Cidade.

A cidade é um organismo vivo dotado de vontade própria. Seja em suas vias congestionadas ou em suas cédulas revolucionarias.

O foco do meu discurso hoje não é a cidade em si, e sim a produção cultural urbana. A cultura como manifestação espontânea do pobre e do oprimido

Entre tanta cultura no berço da nossa pátria amada poderia falar de Villa Lobos, porque não? Poderia falar de Carlos Drummond, Carlos Gomes, Mario de Andrade, Machado de Assis, Portinari ou qualquer um dos inúmeros e inúmeros gênios que não só contribuíram na produção cultural brasileira como revolucionaram o mundo.

Mas voltemos a lembrar da cidade, pensemos nas suas camadas mais profundas. A produção de cultura não ocorre longe dos olhos da grande mídia e da consagração acadêmica e intelectual? Ela não ocorre no coração da periferia? A produção de cultura é capaz de curar o câncer da sociedade enferma pela repetição e subserviência ao modelo norte americano, aos modelos de dominação popular impostos há cinco séculos ou dos atuais realities shows?

A produção cultural no Brasil é como o feijão em uma panela de pressão. Quando os negros escravos foram arrastados da África ao Brasil, além de dor e saudade traziam no peito o espírito popular do folclore e suas crenças nativas. Por fim foram proibidos de praticar seus cultos, a capoeira, atualmente consagrada patrimônio cultural brasileiríssimo, foi proibida e o candomblé abominado.

O ambiente adverso e as perseguições ideológica promovem aqui mais do que em qualquer lugar do mundo a evolução cultural. Deste berço, já pequeno demais para a criança grande e de todas as cores acredito que nasce a cultura Brasileira como conhecemos hoje (e muitas vezes desconhecemos, alienados nos billboards e figurinhas da cultura de massa Estadosunidense)

A cultura popular está amaldiçoada pelo pop. E a criança acéfala das repetições radiofônicas transforma um monstro sem identidade que olha no espelho e não se reconhece humano.

O homem passou por dois estágios.

Primeiro esqueceu que é bicho. Depois esqueceu que é homem. A nossa difusão de cultura pobre, comercial e desumana cria monstros humanos cada vez mais egoístas e alienados do seu papel na sociedade.

A Cidade que se referia Chico se tratava da 4° pior cidade do mundo. Uma cidade brasileira.

A cultura teve seus pontos máximos em momentos intranqüilos e em ambientes adversos. Como os retratados em “Deus e o diabo e a terra do sol” e “João das mortes” dois filmes do diretor brasileiro Glauber Rocha. De um lado o santo guerreiro ou o messias de um povo castigado e do outro o dragão da maldade, o cangaceiro que faz justiça com as próprias mãos.

No Brasil a historia se repete nos morros e favelas na relação de banditismo e politicagem.

Enfim não quero fazer polêmica. Não estou aqui pra reclamar e pouco sei se faço o que me proponho a falar. Adoro os Beatles e a Nouvelle vague e sei que o que passa lá fora também é o caldo da panela. Misturar é preciso, esquecer sim é um pecado.

Abracemos num abraço terno toda cultura da terra e não deixemos que o feijão queime. O mundo tem fome de idéias.

Iuri Tadeu Guião

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